Estava eu no outro dia num 38 apinhado de gente (como sabem o autocarro é o meio de locomoção dos suburbanos) e vejo dois homens (não vou ser generosa ao ponto de os chamar senhores) com uma conversa sobre negócios, t-shirts e afins. Percebi que um deles tinha um piqueno negócio de venda de t-shirts, que as deixava em quatro lojas, mas que também as vendia ele mesmo. Aliás, segundo o próprio, ganhava mais dinheiro a vender aos amigos do que a vender nas lojas donde inferi que nunca por nunca ser vou comprar-lhe uma t-shirt, mas que ele deve ter uns amigos p'ra lá de amorosos.
O meu espanto foi quando o outro homem que falava com ele lhe diz "E venderes na feira da ladra, não?". Claro que eu achei aquilo um disparate do pior- então o fazedor de t-shirts com uns amigos tão simpáticos que até compravam as criações, provavelmente deprimentes, e com quatro lojas (talvez fossem sucursais da Santa Casa da Misericórdia) que também as vendiam, iá lá por-se a vender na Feira da Ladra. Mas eis que veio a resposta que fez com que me apercebesse que não eram só os amigos que eram p'ra lá de amorosos- ele também não tinham muito jeito para o negócio. "Feira da Ladra? Isso ainda é cedo. O negócio ainda é recente, só tem dois anos. Talvez mais tarde." Atónitos? Pois, eu também fiquei. Mas feliz por ver a importância que o povo português dá ao mercado mais tradicional do comércio tradicional. Depois triste, por ter a certeza que o negócio não lhe dura mais um ano.